2016/02/08

Andorinhas

Não é só a dor de cabeça, essa estranha dor com que acordei e que parece concentrar-se por cima do olho direito. Sinto também tonturas e uma repentina sufocação provocada pelo excessivo aquecimento da piscina.  Deixo o jornal, os óculos e a mala na bancada e corro à casa de banho mais próxima. Debruçada sobre a sanita, mãos apoiadas na parede, vomito até ter certeza de que não tenho mais nada no estômago. À saída, depois de bochechar, olho-me no espelho. Não penso em nada, nem nos cigarros que fumei, nem no vinho que bebi. Não penso sequer no sonho que tive. Sinto apenas alívio por estar melhor e ser capaz de tratar do meu filho quando a aula de natação terminar. Volto a entrar na piscina. O Joaquim, em cima de uma prancha, prepara-se para mergulhar. A cor da prancha, um azul celeste muito esbatido, traz-me à memória uma casa que já não existe. Ficava à beira da estrada nacional, entre Sacavém e a Bobadela. Era uma vivenda azul, de janelas largas, com um pequeno jardim abandonado e beirais cheios de ninhos de andorinha. Sempre que passava na estrada nacional, a caminho do infantário, em Lisboa, invejava os desconhecidos que moravam naquela casa. Imaginava que devia ser bom estar à janela, ou no meio do pequeno jardim, a observar o voo das andorinhas. Sento-me na bancada. Sinto nos dentes e na língua a adstringência que o vómito deixou. A recordação da vivenda azul dá-me vontade de chorar.