2015/03/31

IGFSS

A sala de espera do IGFSS é ampla e cheia de sol. Enrolo o papelinho da senha nos dedos. O segurança que está na portaria do instituto - colossal, torso triangular, robusto como um touro de lide - fala ao telefone com a mulher, uma tal Alexandra. Discutem por causa de dinheiro. Animo-me com a possibilidade de assistir a uma bela discussão, ali na sala de espera do IGFSS enquanto espero que me chamem. O telemóvel toca. Do outro lado, João, acelerado, dispara as queixas do costume. Suspiro, aborrecida. Por causa do seu telefonema, não poderei continuar a escutar a conversa do segurança.
- Provocaste-a…
- Estás sempre do lado dela!
- Não estou nada.
- Só porque é a filha sensata, perfeitinha…
O homem da portaria continua a falar ao telefone, cada vez mais alto, cada vez mais agitado. Não consigo perceber uma única palavra do que diz. Peço ao João que se acalme, falamos quando eu chegar a casa, explico que tenho de desligar, estão a chamar a minha senha. É mentira, ainda tenho muito que esperar, mas o segurança da portaria subitamente ficou colérico, deu um murro no balcão, tem os músculos do rosto retesados, vai explodir a qualquer instante. Enfio o telemóvel na mala, ponho-me à escuta, apuro os sentidos, tento apanhar o fio à meada. Ainda vou a tempo. “Não cago dinheiro, Alexandra!”, grita por fim o segurança do IGFSS e desliga o telefone.