2013/07/15

Aninhas e o beijo nipónico

Procurava uma palavra. Sentia cansaço, fome, o dia findo lá fora. Escurecera de repente e só o ecrã do computador brilhava no apartamento. Aninhas sentiu-se triste, aflitivamente só. Minimizou uma janela, maximizou outra. Procurou o filme do beijo nipónico. Deixou-se estar muito quieta a vê-lo. Duas jovens japonesas, de farda colegial, corpos óbvios, fecundos. Trocaram algumas palavras e começaram a beijar-se. Um beijo húmido, secreto. Aninhas baixou o volume para que os gemidos não se ouvissem no patim das escadas. Depois, despiu a camisa e libertou-se do sutiã. Humedeceu os dedos e tocou nos mamilos, sentiu-os firmes, cheios, teve vontade de os morder. Abriu ligeiramente as pernas e meteu a mão dentro das calças. Não tardou a sentir um orgasmo silencioso, bom, incapaz, porém, de suspender a realidade. Voltou a vestir a camisa, compôs o cabelo. Olhou em volta, por todo o lado, sinais de rotina, os chinelos do marido, a taça de gelado que o filho deixara em cima da mesa, os dois pretos de madeira que a empregada insistia em colocar no rebordo da estante. No ecrã, as colegiais japonesas continuavam a beijar-se. Aninhas deixou-se estar a olhá-las durante algum tempo, novamente fria, corpo feito pedra. Levou a mão ao nariz e, na ponta dos dedos, sentiu o seu cheiro, um cheiro adocicado, irritante, previsível, a lembrar calor, pedaços de jagra escura, passeios cheios de lixo. Ajeitou o corpo na cadeira e continuou a escrever.