2013/05/07

Aninhas e o dono


Às vezes, a meio da noite, ia buscá-la à cama do filho e obrigava-a a voltar ao quarto. Não te faço nada, dizia calmamente, mas vens dormir na nossa cama. E puxava-a pelo braço. Como se fosse uma cadela, uma escrava, uma demente sem vontade própria. O filho cobria a cabeça com o edredão para não escutar  o que vinha a seguir: Aninhas tentava libertar-se, gritava muito alto, mordia os braços até os ver sangrar, batia com a cabeça nas paredes, rasgava a roupa do corpo e, assim, nua, tentava fugir para a rua. Com o tempo, porém,  acabou  por desistir da loucura. Isso custou–lhe mais do que o resto. Passou a ser obediente: percorria o corredor em silêncio, olhos caídos no chão, voltava ao quarto e deitava-se ao lado do dono.