2011/05/17

Bavaroise

Certa manhã, ninguém esperava, chegaram ao bairro camarário três camionetas de uma empresa de construção civil. Armaram-se rapidamente os andaimes, foram amarinhando pelas paredes acima como ervas daninhas, serpenteando em espirais, endemoninhadas. Assim que os prédios ficaram cobertos com uma talagarça de escoras e plataformas suspensas, o nº 1 do bairro camarário, edifício igual aos restantes que compunham o aglomerado, bloco maciço, quadrangular, de seis andares, três apartamentos de dois quartos por cada piso, começou a ser pintado. Um exército, pequeno e ordenado, de homens vestidos com fatos macaco azul petróleo, tratou de tudo com brio e profissionalismo. Lavaram as fachadas do edifício com máquinas de alta pressão. Com escovas de aço limparam manchas antigas de humidade e musgo. Taparam frestas, fissuras, rachaduras. No dia seguinte, quando voltaram, com trinchas e rolos gigantes, começaram a aplicar a primeira demão de uma tinta betuminosa, muito cremosa e espessa que, às crianças mais pequenas que por ali andavam, fazia lembrar mousses, bavaroises, sorvetes, outras doçuras a que não estavam acostumados, mas conheciam das rubricas culinárias dos programas de televisão.