2008/04/01

Mulher-Bomba

Com um sorriso nos lábios, a mulher vai relatando a sua história. As adúlteras, as divorciadas, as mães solteiras palestinianas são convidadas a se fazerem explodir para minimizar a vergonha que provocaram nas suas famílias. Explica que o martírio lava a vergonha imensa do adultério e do divórcio. Ela, mãe de uma menina, quis tornar-se mártir do seu povo e, por isso, ofereceu-se para morrer. Deram-lhe um cinto de explosivos, explicaram-lhe como funcionava o engenho e deixaram-na escolher a cidade onde queria morrer. Escolheu a sua cidade preferida. A mulher tem lábios dourados e usa um véu cor de areia que a põe feia. Continua a falar. O que nela mais espanta é o sorriso com que conta a sua história. Parece uma criança que confessa uma travessura: um chocolate de amêndoas roubado num supermercado, uma mentira contada para justificar um disparate. Quando o jornalista lhe pergunta pela razão que leva uma jovem mulher a se fazer explodir, ela volta a sorrir. Se aos homens prometem setenta e duas virgens, às mulheres nada se promete de concreto. É normal que assim seja. As mulheres não merecem a atenção de deus. Ela, confessa, pensou vir a ser uma das setenta virgens.