2007/11/16

Alcaçuz

Bebi um café pela manhã e veio-me à boca um sabor desconhecido. Senti-o na língua, lá atrás onde ela nasce. Um sabor adocicado, perfumado, a fazer lembrar o da flor de anis. Bebi um café e veio-me à boca o sabor das pastilhas de alcaçuz que um dia a minha mãe comprou por engano. Meti uma à boca e logo se espalhou um sabor de antibiótico que nunca esqueci. Bebi um café e senti no corpo a mornidão dos lugares da minha primeira infância. O jardim do Torel e o do Campo Santana, a pastelaria Tarantela, os corredores e o refeitório do Hospital D. Estefânia, a entrada austera do Hospital de São José, a frontaria triangular do Instituto de Medicina Legal, a praça do Dr. Sousa Martins, carregada de mortos e padecentes. Bebi um café e veio-me, não sei de onde, uma vontade grande de chorar.