2007/08/03

Outros

Nestes últimos tempos, tem-se assistido a um levantamento de gente que, de repente, se lembrou de defender, com unhas e dentes, a imigração. De um momento para o outro, descobriram que a imigração é uma coisa boa. Descobriram que a Europa está envelhecida e cansada e que os imigrantes são cruciais para inverter a curva da evolução demográfica. Descobriram também que se não fosse o trabalho dos imigrantes a Europa parava. Não havia pontes. Não havia prédios. Não havia estradas. Nem centros comerciais para passearmos nos domingos de sol. Deixaria de haver quem nos servisse nos restaurantes. Não haveria quem cuidasse das nossas casas e dos nossos filhos. Não haveria ninguém para trabalhar no campo, nas colheitas de morangos, de tomate e sei lá do que mais. Esta gente também descobriu que se não forem os descontos que os imigrantes fazem para os regimes previdenciais, no futuro, não haverá dinheiro para pagar as nossas pensões de reforma.
Ou seja, de repente, esta gente descobriu que os imigrantes são parte da solução dos nossos problemas e que devemos, por isso, aceitá-los. Mas atenção! Devemos aceitá-los em função das nossas necessidades. Esta ideia enoja-me. Causa-me náuseas. Estabelecemos as vantagens e desvantagens da imigração em função das nossas necessidades. E então as necessidades deles? Poderá uma palermice politicamente correcta, sei que parece, mas acho que as portas da Europa deviam estar sempre abertas aos imigrantes. E isso mesmo que a Europa não tivesse os problemas que tem - o envelhecimento da população, a escassez de mão de obra, o facto de existir cada vez menos população activa a efectuar descontos para a segurança social. É que é muito bonito dizer-se que todos os homens nascem iguais em direitos. É muito bonito celebrar, com pompa e circunstância, os aniversários da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Mas a igualdade de direitos passa necessariamente pela igualdade de oportunidades. E essa só se alcança se aqueles que nascem no fim do mundo puderem lutar por uma vida diferente. Porque é que alguém que vive num país em guerra não pode sonhar com a paz? Porque é que alguém que vive num país com fome não pode sonhar com o pão? Porque é que as oportunidades se hão-de determinar em função do país em que cada um nasce? Não compreendo isto. E não aceito. Se as políticas de imigração adoptadas pelos países europeus, para além das suas próprias necessidades, não tiverem em consideração as dos imigrantes, ter-se-á de concluir que o princípio da igualdade de direitos, apesar de consagrado nos textos internacionais e nas constituições de todos os países, é desprovido de qualquer sentido útil, incapaz, consequentemente, de empreender qualquer tarefa de garantia contra as desigualdades e discriminações.