2007/07/18

Ensaio sobre a parolice (1)

Abordo o assunto da parolice. É matéria importante. Devia preocupar-nos enquanto nação, uma vez que, mais coisa menos coisa, somos um país de parolos e parolas. É uma espécie de flagelo nacional. Até as nossas crianças aprendem a ser precocemente parolas. O sonho de qualquer criança é fazer um casting e ser vedeta numa das telenovelas da TVI. As meninas com 11 ou 12 anos querem ser iguais à Britney Spears. Vêem os Morangos com Açúcar. Vêem todas as outras telenovelas da TVI e da SIC. Pintam as unhas com produtos baratos comprados em lojas chinesas. Fazem madeixas no cabelo. Vão passear para os centros comerciais, com mini-saias curtas, que escondem peidinhas virgens, cobertas de triângulos de penugem. Usam telemóveis. Vestem-se, muitas delas, como se fossem umas putas. Há tempos vi uma miúda que não devia ter mais de dez anos. Vestia uma t-shirt mínima, que lhe deixava a descoberto o umbigo e os ombros. A t-shirt tinha escrita uma frase qualquer que não recordo. Só sei que uma das palavras estampadas na t-shirt era “sexy”. Eu olhei para aquela miúda e imaginei-a a perder a virgindade aos doze anos. Uma miúda destas, que passa a infância, a ver as telenovelas e a sonhar ser igual à Luciana Abreu, a beata mais atarracada do mundo, está perdida. Irremediavelmente perdida. Quando crescer vai conseguir alcançar um feito inultrapassável: ser ainda mais parola do que a sua mãe.