2007/05/09

Xabregas

Há blogs que cheiram a cholé. É um fedor que não se pode. Cheiram a pés enfiados em sapatos baratos comprados na Bheska do Forum Montijo. Por falar em Bheska, acidentalmente, descobri por lá umas sandálias douradas que não me saem da cabeça. Mas, depois de comprar um par de sapatos italianos, custa-me andar de cavalo para burro, ou melhor dizendo, de égua para mula, e comprar sapatos feitos na Roménia, na Índia, ou na Turquia. Eu cá não pactuo com a globalização! Nem com a miséria doutros povos. Nem pensar. Era o que mais faltava. Adiante. Voltando aos blogs, outros há que cheiram a partes íntimas mal lavadas e suor. Um horror de podridão. Um cheiro nauseabundo. Outros cheiram a bafio, a mofo, a bolor. Outros cheiram a nádegas. A rabo. É lá, nos blogs-nalgas, que habitam as bichas solitárias, tão modernas, comendo sushi e sashimi com sofreguidão, derramando erudição e tricotando, com lãs amarelas e rosa ciclame, a solidão das suas vidas. Credo. Outros não têm cheiro. São assépticos, inodoros, incolores, inexistentes. Outros são transparentes que é coisa diferente. É bom ser transparente. Como a água que se bebe. Outros cheiram a sarcófago, a caixão, a ataúde de pinho envernizado. Quando encontro os blogs-ataúdes benzo-me e aspirjo-me com qualquer sucedâneo de água santa, que a morte desperta em mim um niquinho de fé e devoção. Outros blogs, são poucos, quase nenhuns, cheiram bem. Cheiram a azul, a mar e a embondeiros. A espirais nocturnas de fumo, chão encerado e cerveja preta. A sabonete de alcatrão. O meu blog cheira a Xabregas. Cheira a patchouli. Tem um cheiro encorpado, enjoativo, a princípio gosta-se, depois rejeita-se. Havia de cheirar a folhas frescas de lúcia-lima ou, então, à madeira molhada, chiando, no fogo.