2007/04/20

CDS-PP

Na universidade tive uma colega que se chamava Vanda Silvério. Pequena e magra, movia-se pela faculdade sem a gente dar por ela. Transparente como um pingo de chuva. Como se não existisse. No último ano fiquei a saber que era uma proeminente dirigente da juventude centrista. Uma promessa no mundo da direita conservadora. Olhei-a com espanto. Na altura, a licenciatura quase terminada, prescindira das calças de ganga. Usava agora saias curtas que deixavam a descoberto umas pernas que não prometiam nada de bom. Olhava-se para aquelas pernas e percebia-se que, mais acima, devia haver uma vagina precocemente envelhecida, com musgos e líquenes, mirrada como uma ostra pingada de limão. Para além de se revelarem uma montra pouco apelativa, as saias, azuis ou verde bandeira, combinavam mal com os seus tristes e descambados sapatos de vela. Recordo que, ao vê-la, por instantes, por breves instantes, senti uma enorme pena da juventude centrista. (Não sei por que me lembro hoje da Vanda Silvério. Deve ser da chuva e porque o Ribeiro e Castro, de bochechas caídas, tão desamparado, falando aos soluços, preste a rebentar num choro furioso, me dá dó.)