2007/03/26

Patroa

Embirro com o patronato. Foi coisa que ficou do tempo das deambulações etílicas pela rua da palma. A minha embirração é tal que não sou capaz de assumir o papel de patroa. Há vários anos que tento despedir a minha empregada e não consigo. Compadeço-me dela, que é uma incompetente. Ao final do dia, faço-lhe o trabalho: esfrego, lavo, limpo, arrumo, varro, estrago as unhas que deixei de roer há apenas dois meses e que, pintadas de vermelho, são um regalo para os meus olhos. Enquanto dou conta do serviço doméstico, insulto-a devidamente, chamando-lhe uma série de nomes que devia evitar em frente dos miúdos: velha, cabra fanhosa, gaja e, claro está, puta. Volta e meia, imploro ao R. que a despeça. Ele é que representa a ala liberal, direita, racional no casal. Eu sou a esquerda emotiva, irracional, levemente engajada em determinados assuntos. Mas nada. Ele nada faz. Até parece que é para me provocar. A minha filha, perante o meu desespero, já me disse que, se eu quisesse, ela podia tratar do assunto. Muito pequenina virou-se para mim e disse: mamã, eu expulso-a! Tão querida, a minha filha.