2007/01/11

Singbal's Book House

Quando vi o documentário da Inês Gonçalves sobre Goa, Pátria Incerta, uma mulher captou a minha atenção. Não só pela sua sóbria beleza, mas também pelo discernimento das suas palavras ao falar de Goa e da estranha coexistência de uma fé católica furiosa com o milenar sistema de castas. A tal mulher, uma goesa de sessenta anos, descobri depois, chama-se Maria Aurora Couto e, recentemente, escreveu um livro," Goa, a daughter's story." O livro não se encontra traduzido em português. Ontem, em Panjim, ao deambular perlos corredores da Singbal's Book House, a livraria onde o meu pai de dezoito anos comprava os livros escolares, encontrei-o, coberto de pó no cimo de uma estante. Sinto que esta foi uma compra muito especial. Custou apenas seis rupias.O livro anda à volta da identidade goesa e foi comprado nesta livraria tão especial. O chão escuro, de madeira corrida, foi pisado pelo meu pai jovem. É bom lê-lo na varanda, à sombra da mangueira, pela manhã, muito cedo, quando o mundo desperta e os pássaros iniciam uma sinfonia infernal. Ao longe, pela vereda, vejo chegar a Caetaninha, silenciosa e frágil.