2007/01/24

Nora

Tem nove anos. É bonita. O cabelo preto e ondulado. Os olhos rasgados. Segundo a tia Amália a cor da sua pele, e da minha também, faz lembrar os parsi, vindos da antiga Pérsia e instalados no norte da Índia. É boa aluna. Fala e escreve correctamente inglês, concanim e hindi. Sabe tocar piano. Gosta de ler. É exímia bailarina da baratnatyam, uma das quatro danças clássicas indianas. Invejo-a quando ela arregala os olhos para fazer de demónio. É astuta e levemente descarada. Tem a sagacidade dos animais pequenos. Mais importante: gosta de mim. No último dia, na praia de Juhu, no meio da multidão tardia, entre vendedores ambulantes, freiras, amestradores de macacos, cuspidores de fogo e vendedores de pífaros, abraçou-me e confessou que não me queria ver partir. Como vou passar um ano sem a ver? Já disse ao João que se deixe de coisas. A noiva dele está escolhida. Vive em Bombaim, é prima em segundo grau e chama-se Elaine Noronha.